Projeto de conclusão de curso de fotografia vira exposição no Porto Digital


Fotografia
agosto. 21, 2018

Mostra “Além dos Olhos” reúne imagens e objetos esculpidos em gesso com foco na acessibilidade para deficientes visuais

Uma oficina produzida pela aluna de Fotografia, da AESO-Barros Melo, Cris Soares, com o objetivo de estabelecer um vínculo entre deficientes visuais e a fotografia deu origem à exposição “Além dos Olhos”, que pode ser conferida de 21 a 30 de agosto, na Galeria de Artes Digitais, do Apolo 235, no Porto Digital do Recife.

A mostra reúne fotos e objetos esculpidos em gesso, que expandem o alcance do material a pessoas portadoras de deficiência visual.  A concepção do trabalho se deu como projeto de conclusão de curso da fotógrafa. Ela reuniu três pessoas com deficiência visual que foram introduzidas nas técnicas de fotografia. Ao final do processo, cinco objetos comuns do dia a dia, como um guarda-chuva, foram registrados pelos alunos. As fotos foram reveladas e também esculpidas em gesso, com texturas, na fresadora (existem muitas tarefas que uma máquina de fresagem pode executar como moldar e perfurar)do Laboratório de Objetos Urbanos Conectados, o LOUCo.  

“O objetivo era desenvolver e estimular a leitura de imagem dando autonomia para as pessoas cegas compreenderem as imagens a partir de suas referências táteis e, não somente,  por uma leitura via áudio descrição”, comenta. O resultado foi tão surpreendente que, agora, será exposto ao público. Confira a entrevista a seguir para entender um pouco mais sobre “Além dos Olhos”.

AESO: Como surgiu a ideia de promover uma oficina de fotografia para cegos e pessoas com baixa visão? 

C.S: A partir da vontade de aproximar a fotografia de um grupo que, de alguma maneira, não tivesse vínculo com a arte ou que a mesma não ocupasse um lugar de valor em suas vidas. Escolhi pessoas cegas ou com baixa visão para criar um laço entre elas e a fotografia, já que, durante as pesquisas iniciais, algumas disseram que a atividade estava no dia a dia delas, mas sem um verdadeiro sentido.

Sendo assim, realizamos a oficina para transmitir alguns princípios da fotografia e estimular o grupo a produzir imagens, aproximando essas pessoas da foto e auxiliando-as a desenvolver a leitura imagética e ter mais autonomia, por exemplo. A partir das imagens captadas, fizemos a modelagem digital das peças no Porto Digital, que esculpiu os materiais em gesso.

AESO: Como foi o processo de ensino da fotografia? 

C.S: No primeiro dia, ministramos uma aula de iniciação ao universo da fotografia. Mostramos alguns modelos de câmeras fotográficas, explicamos o funcionamento delas, etc. O segundo dia foi dedicado à produção fotográfica dos participantes da oficina. Também passamos algumas técnicas adaptadas para que eles pudessem se guiar na hora de registrar a imagem, como, por exemplo, contar passos para medir o enquadramento, ouvir o som dos modelos. 

AESO: E o aprendizado dos participantes da oficina?

C.S: Superou todas as expectativas. O grupo já havia tido um contato com assuntos de fotografia. Alguns já haviam manuseado uma câmara DSLR, o que facilitou um pouco para a compreensão do assunto. Quando apresentamos algumas imagens táteis eles tiveram dificuldade para compreender inicialmente, mas depois conseguiram “ler” tranquilamente.

AESO: Qual o ganho do trabalho realizado na vida das pessoas?

C.S: O desenvolvimento do laço com a fotografia de uma forma diferente, sem ser no formato digital a partir de uma áudio descrição. Um aprendizado de leitura de imagem, além de poderem sentir tatilmente uma fotografia produzida por eles pela primeira vez. 

AESO: Qual a importância dessa inclusão no seu ponto de vista? 

C.S: Cada pessoa possui bagagem e experiências únicas. Quando interagimos umas com as outras, principalmente com vivências distintas das nossas, enriquecemos. O que fizemos com esse trabalho foi ampliar nossa sensibilidade para outras áreas e assuntos antes não pensados por nós. Por vezes, na fotografia, nos atemos, unicamente ,ao sentido da visão como guia para a captura da imagem e acabamos não percebendo como os outros sentidos nos orientam na hora de tirar a foto.

AESO: Você acredita no papel sociopolítico da fotografia? Como você enxerga isso?

C.S: Claramente! É meio de comunicação e, através dela, podemos passar diversas mensagens, de denúncia, registro, etc. Mesmo que uma pessoa não tenha conhecimento das técnicas fotográficas, se ela conseguir capturar uma imagem, ela pode transmitir uma mensagem a partir desta foto. 

AESO: Qual sua expectativa para a exposição?

C.S: Desejamos que com a mostra deste projeto possamos incentivar mais pessoas a fazer trabalhos relacionados, projetos que envolvam minorias e discussões sociais. Esperamos que todos gostem e se inspirem na exposição.

Exposição Além dos Olhos
Onde: Apolo 235 – Rua Apolo 235 (entrada na Rua do Observatório), Bairro do Recife, Recife – PE
Quando: 21 a 30 de agosto – Abertura no dia 21, às 19h
*Durante a abertura, no dia 21 de agosto, será realizado, às 19h, um bate-papo entre o público, os participantes da oficina e a oficineira, sobre fotografia e acessibilidade. 
Entrada gratuita
 

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